Prospectiva analisa o 2º turno das eleições no Brasil
Preferência dos eleitores
Embora Lula e Bolsonaro tenham conquistado apoios semelhantes entre pequenas e grandes cidades, o atual presidente perdeu em centros urbanos importantes como São Paulo, Salvador e Porto Alegre, enquanto no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte sua vantagem em relação a Lula foi marginal. Em comparação a 2018, Bolsonaro perdeu, em média, quase 12 p.p. nas capitais do Sudeste. Embora Lula tenha vencido em apenas 11 capitais, o apoio ao presidente eleito se concentrou no Nordeste, o segundo maior colégio eleitoral regional do país, e na cidade de São Paulo. Considerando apenas os estados, Lula teve melhor performance que Haddad nos três mais populosos: SP, RJ e MG. Já Bolsonaro foi mais popular no Sul e no Centro-Oeste, regiões de menor concentração populacional e com cidades menores, indicando um voto mais interiorizado do atual presidente. Regiões metropolitanas do sudeste e do nordeste foram responsáveis pela vitória de Lula. Bolsonaro teve crescimentos nos interiores e regiões menos populosas.
Com o desenvolvimento de uma estratégia eleitoral baseada na concessão de benefícios sociais, e no repasse de verbas provenientes das emendas de relator para bases aliadas, a campanha de Bolsonaro provavelmente impactou regiões com menor concentração populacional do que em 2018. Lula, como um candidato com forte apelo em políticas sociais, tem alta popularidade em grupos de menor renda, tanto em regiões metropolitanas, como nas demais, que possivelmente foram alvo de projetos de desenvolvimento durante suas gestões passadas. Ademais, debates sobre a democracia e estabilidade institucional, característicos desta eleição e relevantes para a imagem externa do Brasil, podem ter favorecido Lula em capitais mais cosmopolitas.
Mulheres e negros: apoio consolidado a Lula foi pouco atingido por tentativa de aproximação de Bolsonaro
Com alta popularidade entre mulheres e negros, Lula consolidou o apoio destes segmentos por meio de suas propostas sociais, que atingem mais diretamente tais grupos. O presidente eleito também procurou realizar discursos de reconhecimento a minorias, anunciando a criação de ministérios relacionados à igualdade racial, direitos das mulheres e de povos indígenas. Em contraposição, Bolsonaro, durante a campanha, foi altamente criticado por suas falas e atitudes contra minorias, especialmente mulheres. Em um debate presidencial, chegou a ofender uma jornalista da Rede Cultura e, em outra, realizou comentários considerados inapropriados sobre meninas venezuelanas. O engajamento da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, assim como a edição de medidas como Emprega+ Mulheres e Jovens, não foram ressonantes em um eleitorado insatisfeito com a gestão de Bolsonaro, em especial durante a pandemia de Covid-19. Assim, apesar dos esforços, o presidente seguiu sendo derrotado em grupos que já o rejeitavam desde 2018.
Segundo dados do IBGE, mais da metade da população brasileira é composta de mulheres (51,1%) e negros (56%), dando a Lula vantagem numérica importante sobre Bolsonaro. Com programas de governo priorizando a inclusão social, o presidente eleito fidelizou apoio consistente de grupos mais marginalizados. Já Bolsonaro, com forte associação ao empresariado, e com falas negativas sobre minorias, não conseguiu atrair tais grupos que, mesmo sendo beneficiados com programa como o Auxílio Emergencial e o Auxílio Brasil, não modificaram sua visão de que a prioridade a tais mecanismos será maior em eventual governo Lula do que sob Bolsonaro.